-Xadrez de Quinta-
Jogar xadrez é fácil, pois o sistema enxadrístico baseia-se na regra. É questão de aprendizado. Difícil é pensar xadrez. O que faço aqui é uma tentativa. De quinta categoria!
terça-feira, 17 de maio de 2011
Sobre o eterno retorno
domingo, 18 de outubro de 2009
Não é feitiçaria, é tecnologia.
Não é novidade para ninguém – acredito que entre os caros leitores não o seja -, que o mundo passou nas últimas décadas por transformações tecnológicas impressionantes. A palavra tecnologia , assim como tantas outras que utilizamos, vem do grego, e pode-se sugerir como significado a idéia de “estudo do ofício”. O importante de buscar na raiz o significado das palavras é que isto nos leva diretamente para o seio de determinada cultura ou civilização, informação esta que pode acrescentar na compreensão dos valores envolvidos no uso de tal palavra. Como se sabe, a cultura que vivemos hoje é predominantemente ocidental, o que significa dizer que tem suas origens basicamente nas tradições grega e romana. Nesse sentido, a tecnologia está em sintonia com os padrões culturais que sustentam grande parte do Ocidente.
Isso não significa dizer que a tecnologia seja uma especificidade da cultura ocidental. Pelo contrário, muitas culturas e civilizações desenvolveram tecnologias antes mesmo dos gregos. O que interessa aqui é marcar em qual tradição cultural a atividade humana que se desenvolvia em outros grupos foi inserida no domínio da linguagem. Isso significa, em outros termos, que a tecnologia passa por um processo adicional de legitimação, que nada mais é do que reconhecimento coletivo.
Isso explica em grande parte porque as tecnologias são, apesar de suas especificidades, um elemento estrutural das sociedades, principalmente as sociedades modernas. E pode explicar também porque elas se difundem universalmente, com considerável rapidez. O caso emblemático é, sem dúvidas, a internet.
Não vou me atentar a tecnologia a priori, que é o computador, a máquina que revolucionou o mundo ao mudar padrões de trabalho e sociabilidade e substituir pessoas. O fato é que existindo o computador, veio a internet, que definitivamente trouxe ao ser humano a possibilidade de repensar seu próprio papel na sociedade e o papel da sociedade na nossa vida.
“É preciso estar presente para se comunicar? Trabalhar? Interagir? Relacionar? Amar? É preciso me locomover para consumir? Visitar lugares? Conhecer pessoas? Informar-me?É preciso mais que um computador para criar? Ler, escrever, desenhar, musicar? Conhecer, aprender, aperfeiçoar?”
Nós, enxadristas, somos presas fáceis para o tipo de oferta que a internet nos traz. Atividades introspectivas, acesso ao conhecimento, a prática, a informação, a treinamento, enfim, uma verdadeira revolução na nossa forma de relacionamento com o jogo de xadrez e, mais importante, com o mundo do xadrez. Um mundo que envolve pessoas, mas também máquinas que jogam – não que pensam, mas que calculam, logo, profundamente diferentes da capacidade complexa de reflexão e racionalização dos seres humanos.
A internet invadiu o mundo do xadrez assim como nossas vidas. Qual enxadrista hoje consegue não interagir com este universo? Vejam só vocês, eu aqui no planalto central sendo “ouvida” por milhares (assim espero) de pessoas, tudo isso possibilitado por esta ferramenta tecnológica. Eu, que aprendi a jogar xadrez na escola sem o Pequeno Fritz*, tinha como oportunidade de aperfeiçoamento os encontros com os colegas no clube de xadrez de Batatais para jogar ao vivo e a cores. Ler era em revista, livro, aliás, com aquelas anotações antiiiiigas... Sem interação a distância, sem a menor possibilidade de enfrentar um adversário de outro país, por exemplo. Aguardando ansiosamente os torneios para saber das novidades dos demais enxadristas, já que a comunicação era escassa...
ICC, Free Chess, Orkut, Twitter, You Tube, Google, Msn, Skype, Fritz On Line, Chess Base.com, Clube de Xadrez On Line, Blogger, enfim… Todos são caminhos que levam você até o xadrez, tanto ao jogo quanto ao mundo. Aqueles que, assim como eu, não nasceram na era da internet mas foram cooptados por ela, são capazes de perceber essa diferença entre o antes e o depois.
Melhoras? Sem dúvida! Acredito que a internet seja a grande responsável pela democratização do xadrez e o salto qualitativo entre os jogadores, particularmente os mais jovens, aqui no Brasil. Mas é preciso cuidado para não substituir. Quem já não ouviu o comentário em um torneio ao vivo de que “me faltou um mouse ali”?
É preciso não se (super)impressionar com a capacidade de um computador conectado a rede mundial, achando que isto é o mundo do xadrez e a única maneira – ou talvez a mais perfeita -, de se jogar xadrez. Ganhar um blitz na internet de um GM no ICC não significa que isto se repetirá ao vivo... Mas é preciso valorizar a possibilidade de ter tal experiência. Mas jogo ao vivo é jogo ao vivo. Xadrez suado faz toda a diferença. O Fritz, materialista que é, calcula o mate, mas não a capacidade de determinado jogador, tremendo de nervosismo, executá-lo quando está com 15 segundos...
Não sou reacionária e, como disse, me beneficiei muito com essa new wave interativa da internet. Meu xadrez também tem acesso a mais conhecimento, a mais partidas jogadas, a mais treinos. Mas é preciso ponderar e refletir sobre as mudanças. Ela aconteceu e os enxadristas apenas afirmam: “é, o xadrez não é mais o mesmo”.
Não podemos nos esquecer: não é feitiçaria, é tecnologia. Produtos de homens e mulheres, mentes e não máquinas pensantes.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Pressa, perfeição e outras coisas mais...
(sabedoria popular, autoria sem autor)
A percepção que temos dessa correria não é individual: todos reclamam, todos reparam, todos se desesperam. E o tempo, essa verdade universal, não se incomoda. Ele continua, sempre; ele é só movimento.
E por falar em tempo, o xadrez - que como tudo e todos é também dependente do tempo -, tem buscado sobreviver em meio a esse trânsito. As partidas de 1 minuto na internet, ao xadrez-súbito. Não é necessário refletir, e sim reagir. Reaja. Não interessa. Sacrifique. Enrole. Esperneie. E ganhe no tempo, sem nenhum pudor.
O problema é que as pessoas estão com muita pressa para perceberem as coisas.
Há algum tempo atrás - e nem é tanto tempo assim, se pararmos para pensar -, as pessoas se interessavam em jogar xadrez sem tempo. Imagine... O tempo, que é sempre presente mesmo quando passado e futuro, assim, jogado de lado. Simplesmente indiferente ao tempo. Um lance demorava... Demorava umas 20 horas. Talvez mais, não se sabe. Tanto faz. A questão é que demorava, e isso era valorizado de um modo diferente. Não se gastava 2 segundos para determinar que a análise indica a vantagem de +1.87 das Negras.
Outros tempos... Tempo de correio e de carta. E do tempo que se gastava escrevendo. O gesto: o andar até a gaveta, a escolha da caneta - é preciso checar se ela está funcionando! -, o papel na gaveta de baixo... Um copo d´água antes de, enfim, caminhar até a cadeira e a mesa que então receberão solenemente o papel e a caneta, e a escrita. A cola, o selo, o dia de ir ao centro da cidade finalizar a empreitada... Xiii, levava uns 3 ou 4 dias, até mais! E, dentro do envelope, um lance. Um O-O.
Nesse tempo acreditava-se que a pressa era inimiga da perfeição. Perfeição não queria dizer tudo certo, resolvido, ponto final. Não. É a idéia do tempo de acabamento. O tempo que toda coisa leva para não só ser feita, mas compreendida, digerida. Independente do que você come, seu corpo leva 2 horas para entender o que você fez e absorver essa informação.
E ainda há torneios que corajosamente atraem adeptos com o ritmo de 2 horas nocaute.
Pare e pense: quanto tempo leva uma partida de xadrez?
Quanto tempo é preciso para entender o que é xadrez?
Quando foi sua última partida? Quando será sua última partida?
(Esse texto talvez seja um modo de pedir a tempo a desaceleração.)
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
O sentido da repetição
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez com outro número e outra vontade de acreditar
Mas vejam, há um detalhe importante. Apesar da repetição, uma das idéias presentes neste texto de Drummond é a possibilidade da diferenciação, o que aparentemente – percebam, somente nas aparências -, parece contradizer a idéia do repetir. E é nisto, justamente neste pequeno grande detalhe que eu vejo a exploração – a extrapolação, se assim preferir-, de uma característica do jogo de xadrez.
Ao pensarmos em uma partida de xadrez, estaria descrevendo o óbvio ululante se falasse das regras que compõem o jogo. Este é o elemento que, sem dúvidas, mais se repete. Não direi que se repete sempre porque existem os erros, em que a regra pode ser desafiada ou pela ignorância ou pela desatenção – ambas características humanas, demasiada humanas. O fato é que a regra exige, por definição, a repetição para fazer sentido; e o xadrez precisa das regras – também por definição -para que se torne um jogo. Logo...
Além disso, a repetição é uma das muitas ferramentas que dispomos para estudos enxadrísticos. Ao montarmos uma, duas, dez vezes um determinado diagrama ou reproduzirmos uma sequência de uma variante, lá está ela, a repetição, nos auxiliando no processo de memorização e, por consequência, de aprendizado.
Mas repito: a repetição não negligencia a diferenciação, a possibilidade do diferente acontecer. Meu argumento tornar-se-á plausível com a ajuda de você, leitor. Por favor, pense em suas dez últimas partidas com uma determinada cor, de brancas por exemplo. Certo. Agora analise quais foram as aberturas jogadas. Considerando que, ao menos, metade delas seguiram a mesma variante – sim, você não deve ser tão ousado ao ponto de não repetir, pelo menos três vezes, aquela danada de abertura que você viu o GM X jogando na Olimpíada, obtendo um ataque fulminante ao rei, na esperança de que o resultado seria tão eficiente quanto... Responda: a mesma abertura levou a partidas iguais?
segunda-feira, 28 de julho de 2008
A tal hegemonia russa... (Ou uma interpretação sobre um universo particular)
[Cito uma passagem da peça "Não Sobre o Amor" - título sugestivo para uma obra russa, não? - que diz: "Porque quando você me diz o quanto, o quanto, o quanto, o quanto você me ama, no terceiro quanto eu já estou pensando em outra coisa..."]
ontem
hoje
sempre