Para quem não sabe, dentro de um ano serei uma Internacionalista ou Analista de Relações Internacionais. Sabem o que é isso? É quem faz gradução em Relações Internacionais, curso novo, cerca de 30 anos no Brasil e há 3 em Marília, cidade onde estudo.
Desesperada??? Imagine!!!
Por que estaria? Um curso recente, ninguém sabe - digo, ninguém que realmente importa, como empresários - sabem o que fazer com um profissional desta área, o curso mesmo é "o samba do crioulo doido", estudando um pouco de tudo, e tudo de nada. Essa é minha percepção das coisas. Porém, fui EU que escolhi fazer tudo isso. Mas puxando aqui namemória, lembro de uma grande dúvida existencial que tive na época que escolhi tudo isso...
É possível viver (ou sobreviver) de xadrez?
Essa dúvida me corroeu, eu amava jogar xadrez - e ainda amo! - me dedicava aos estudos, toda semana eu estava por aí participando de algum torneio - mesmo com a resistência de meus pais que achavam melhor eu "estudar para o vestibular". Neste contexto, realmente considerei a possibilidade de ser profissional, de trabalhar com xadrez, e viver feliz para sempre. Conhecia bons exemplos de pessoas que conseguiam construir sua vida assim, inclusive mulheres como as grandiosas pessoas de Joara Chaves e Regina Ribeiro.
Pensei, pensei... quase fiquei maluca... Pensei de novo... E decidi: vou mesmo é estudar.
Decidi fazer faculdade na esperança de - não custa sonhar! - ficar rica e daí então só jogar xadrez! Ia ser lindo, tudo planejada, certeza de sucesso. Quanta inocência! E agora me vejo aqui, em vias de me formar, preocupada com tantas coisas, e o xadrez, onde está?
Infelizmente eles ficam na minha estante, os livros, apostilas, até as peças, coitadinhas, tristes, solitárias, suplicando um afago que não posso dar pois tenho um seminário sobre Kant para apresentar semana que vem! Que vida triste é essa, meu Deus, de relegar a segundo plano o que se gosta!
Tenho hoje uns 10 aninhos de xadrez, nada perto de alguns monstros e não significativo quando penso na Amanda Marques e na Daphne Jardim que são "monstrinhas com 10 aninhos de idade". Conheci e ainda conheço tanta gente que consegue viver de xadrez, como um dia eu pensei em fazer e que hoje não consigo considerar... Penso na coragem e disciplina daqueles que escolheram este caminho, porque afinal de contas não dá para "jogar na raça". Sou defensora de que xadrez bom é xadrez estudado. Talento ajuda, mas o Xadrez Básico é essencial.
E eu nessa história toda - desolada com uma eminente possibilidade de ser uma desempregada diplomada como tantos - fico aqui, admirando, exaltando aqueles - óh, enxadristas! - que tiveram a coragem de decidir que viver de xadrez é possível sim, mesmo que no Brasil, mesmo que ganhando mal, mesmo que perdendo, mesmo que o xadrez seja tudo isso mesmo!
Nas palavras de Leminski:
"palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece."