"Assim como o amor e a música, o xadrez tem o poder de tornar os homens felizes." (Tarrash)

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

A preguiça e o surfista.

Vendo TV esses dias, tive que lidar com uma situação constrangedora: amigos gargalhando na minha cara ( ou será "da" minha cara?) por causa da nova propaganda da Globo.com.
Para quem não viu: um bicho preguiça- novo "garoto propaganda" da rede para divulgação da internet banda larga- está jogando xadrez com um renomado surfista brasileiro, campeão mundial e tudo. Ele conta que Serginho - sim, a preguiça tem nome!- lhe ensinou um jogo dinâmico, emocionante... E aquela cena patética do bicho, do surfista e do material de xadrez na mesa.
O tom é irônico, sem dúvidas. A idéia é associar lentidão duplamente- à preguiça e ao jogo de xadrez- e assim infiltrar nas nossas mentes: banda larga! Banda larga neles!!!
Do ponto de vista do marketing, parece eficaz pois realmente preguiça e xadrez são lentos. São imagens simples e óbvias para a proposta; duvido que alguém não tenha entendido a mensagem. Mas... o xadrez é só isso? (Não falarei de preguiças pois não entendo muito do assunto...)
Aparentemente, o xadrez é lento sim, parado, principalmente para aquele surfista que não entende nada de xadrez. Se entendesse não teria feito aquele papel ridículo na propaganda, a não ser por dinheiro. Mas isso é história...
Mas o enxadrista sabe que naquele marasmo aparente estão acontecendo turbilhões de coisas na cabeça. Nada parecido com o que sugere a propaganda. Para mim, foi o máximo de uso de esteriótipo de xadrez que já vi na TV.
Engraçado não deixa de ser. Também sou adepta do bom humor. Mas não deixei de sentir aquela pontinha de indignação com aquela cena toda. Pensei: "Serei uma preguiça?". Depois: "Até uma preguiça senta na frente de um tabuleiro!"- enfezei.
Para melhorar, ainda tem o comentário final enfâme do tal surfista: "Pena que não têm muitas gatinhas... Mas pelo menos têm duas rainhas!". O que fazer? Adotarmos biquinis e sungas como uniformes?
Idéia: carta de repúdio à propaganda com fotos de Alexandra Kosteniuk e Almira Skripchenko anexadas. Queria ver a cara do rapaz do surf ao ver essas meninas.
*Assim que estiver disponível no You Tube, coloco o link da propaganda.*

3 comentários:

PC disse...

Cara Taís Julião,

Creio que o mentor da propaganda seja uma pessoa que expressou sua ignorância abismal acerca da compreensão do xadrez e de outras coisas e seus reais valores. Explicando: o conceito de lentidão está ainda muito arraigado na mentalidade exploratória da produção capitalista, onde o imediatismo e a velocidade de consumo não dá tempo ao ser humano de refletir suas escolhas e ações, aprisionando qualquer esforço mental que não seja transformado imediatamente num bem de consumo!

De uma dessas leituras que fiz, me lembrei que um certo autor escreveu sobre uma passagem do grande sábio grego Arquimedes. Era mais ou menos assim:

Alguém aproximou-se de Arquimedes e fez o comentário que o trabalho intelectual era muito fácil, pois não exigia o suor e a força do corpo, como o trabalho treinado dos braços e das pernas, enquanto que o trabalho mental era realizado no conforto sem o corpo sofrer as agruras do sol e da chuva.
Arquimedes então olhou para o homem e respondeu:
- Vamos pensar um pouquinho. Então indagou:
- Porque apenas muito poucas pessoas se dispõem a pensar na solução de um problema complicado para que milhares possam trabalhar?
O homem pensou um pouco e respondeu:
- Talvez porque não tenham tempo para isso!
Arquimedes então disse:
- Não, porque pensar é muito mais árduo e difícil e exige o esforço constante da dedicação para chegar ao resultado!

Abração,

PC2009

PC disse...

Desculpem as falhas do português: No início das frases interrogativas se escreve " Por quê".

" Por quê apenas muito poucas [...] ?"

PC

PC disse...

Taís,

No texto não ficou muito claro a idéia que é a seguinte:
Quando o homem respondeu: "Talvez porque não tenham tempo para isso!" ... ele se referia àquelas milhares de pessoas que preferiam o trabalho braçal ao trabalho intelectual, e relendo o texto percebi que havia ambiguidade.

Tchau,