Não se espantem, afinal, todo escrevente que se preza acaba fazendo isso aqui, uma crônica de fim de ano. As motivações são muitas: lembranças, boas, ruins, e aquelas completamente deletáveis; encerramento, sim, como se um ciclo estivesse completo e um outro fosse, como num passe de mágica, ser iniciado com a simples substituição de um calendário por outro; desejos, aqueles que nos movem, que nos fazem planejar, projetar, pensar o infinito e o além disso. O fato é que, de certa forma, nos sentimos quase que obrigados a cumprir este papel, o escrevente da crônica de fim de ano.
Certa vez um rapaz, moço bonito que só vendo, ao ler meus textos me encaminhou um artigo que narrava sobre isto: a diferença entre escritor e escrevente. Apesar de ter mostrado apreço por minhas palavras, confessou uma desconfiança de propósitos e desafeto ao meu estilo. Segundo sua avaliação, eu dizia, dizia, e não dizia nada. Faltava forma e conteúdo. Faltava propriedade de escritor. Me sobrava a sina de escrevente.
Tentei explicar que não era de minha intenção fazer carreira literária, muito menos ousar dizer dizeres ousados, que meu trajeto mesmo era o xadrez. Xadrezista que sou, pensei numa estratégia para convencer o tal rapaz – muito bonito mesmo -, de que minhas palavras eram sem ambição e porque não egoístas. Pretendiam me satisfazer, depois o público. E a reza para que alguém entendesse, alguém gostasse, acompanhasse o aprendizado, quem sabe. Sabia das dificuldades. Não sabia a diferença entre ousadia e humildade.
Mas ele, o tal moço bonito que só, insistia. Forçava o argumento de que precisava ter sentido, chegar fundo no dizer, alcançar o indizível, produzir a imagem. Me afeiçoei ao tal moço, que vez por outra me convidava para uma partida, sem relógio nem nada, só pelo divertimento. Dizia ele que aprendia coisas, sabe-se lá de que tipo.
A relação perdurava e o pensamento persistia em entender os questionamentos daquele moço-poeta que, vez em quando, voltava ao assunto. Via que meus esclarecimentos não bastavam, então forcei a cuca para entender o porquê da persistência. Reli o escrito sobre escritor e escrevente. Li outras coisas também, de escritor mesmo. Aí sim, tudo começou a alumiar por aqui...
Mas ele, o tal moço bonito que só, insistia. Forçava o argumento de que precisava ter sentido, chegar fundo no dizer, alcançar o indizível, produzir a imagem. Me afeiçoei ao tal moço, que vez por outra me convidava para uma partida, sem relógio nem nada, só pelo divertimento. Dizia ele que aprendia coisas, sabe-se lá de que tipo.
A relação perdurava e o pensamento persistia em entender os questionamentos daquele moço-poeta que, vez em quando, voltava ao assunto. Via que meus esclarecimentos não bastavam, então forcei a cuca para entender o porquê da persistência. Reli o escrito sobre escritor e escrevente. Li outras coisas também, de escritor mesmo. Aí sim, tudo começou a alumiar por aqui...
Não é forma, nem conteúdo. Xadrez, família, natureza... Tudo é vida. Mire veja: o importante é que dá para comentar tudo nesse mundo. Mesmo que besteira, tolice. É do ser humano. Não faz mal estar mal feito, mas não pode ser por ordem de outrem nem por hábito. Exige esforço sim. Mas tem que sair do coração e do passado. Passado que é aprendizado, que é semente da fruta do agora. O coração ajuda na energia que circula, que faz a vida viver, sabe?
Nesse encontro, então, não vou falar de xadrez como sempre. Vou escrever na tentativa. Inspiração pro futuro a partir do passado. A partir de leitura. De admiração. Arriscar. Rabiscar. Fim de ano é assim, última chance de errar ainda nesse calendário.
Quem não gostar, peço a gentileza de virar a folhinha e lembrar que tudo já passou, e que ano que vem tem mais. Como vai ser eu não sei, adivinhações não é de meu ramo. Não sei o como mas sei da matéria. Mais estórias, mais palavras. E o xadrez sempre de luneta.
Tudo de bom pra todo mundo.
5 comentários:
quando o caçador acerta o alvo os companheiros vibram... o mesmo quando o goleador marca! todos estamos embasbacados com o chi das suas palavras...
o escritor é o malabarista das emoções. o olhar poético, portanto, faz da palavra um recreio-sem-fim...
saúde e beleza em 2008!!!
eu acho que gostei demais desse post.
e amanhã escrevo um texto de 'final de ano', mesmo sendo o primeiro dia do 'novo ano', até porque, ainda não tenho dotes de escritora, então sou uma 'escrevente que se preza' o/
olha, eu procuro me aperfeiçoar na escrita (e pensa em algo bem amplo) e essa é a minha 'nova era'.
beijo Taís,
e cuidado com os fogos hoje à noite (lê-se 'feliz ano novo')
ps: vc nunca me respondeu porque disse que eu sou 'diferente mesmo.'
ps²: e quantas aspas, meu professor disse pra eu parar com isso :~)
uau!
Ora Taís,
Você é bela pelo que faz e expressa! ... Não importa e A, B ou C, ou todo o abecedário não goste de tua escrita, de tuas crônicas e filosofias, o que importa é que você vive pelo que é e o faz com muito amor no coração, além de ser apaixonada pelo Xadrez, isso já vale tudo o mais! Escrever? ... Ora, há muito mais escritores do que enxadristas no mundo, e muitos podem ser bons escritores, porém muito poucos serão bons enxadristas! E muito poucos ainda tem o verdadeiro amor pelo xadrez sem ser bons enxadristas o suficiente para ser o campeão dos torneios! Mas pode acreditar que os verdadeiros amantes do Xadrez são legítimos campeões da vida!
PC2009
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