Para Daniel
Como era verão, a casa estava cheia de moscas. O calor quente as atraiam de forma irresistível, e a chuva brindava suas chegadas triunfais, repletas de zangas e palavrões.Foi num dia desses que o menino, entediado com a água que caía sem parar, ouviu a sentença do tio: "Vamos jogar xadrez?"
O menino, de nome João, ficou paralisado. "Que diabos ele está falando?" O tio estava em visita por ocasião das festas finais, e prolongando sua estadia em virtude da chuva - que não pára -, ficava todo o dia sentado na poltrona próxima a janela, reclamando com a fisionomia a infelicidade daquele clima. E o que será que ele tinha perguntado?
"Não sei o que é jogar não, tio. Nem sei o que é esse negócio de xadrez." - disse, enfim, o menino. Ficou silêncio.
"Alguma coisa você sabe jogar. Nem futebol?" - bufou o tio. "Futebol jogo, mas agora pode deixar a gente gripado..." A chuva não mostrava sinais de desistência.
"Vai na mala do tio, abre, tem uma caixa de madeira lá. Traz aqui." O menino mal ouviu as recomendações e rumou para o quarto, que era onde o tio maldito seja estava dormindo. Já na abertura, viu no meio das cuecas e camisas aquela caixa. Achou estranho o motivo da estampa, cheio de quadrados, só de duas cores. O menino não sabia que preto não é cor, mas ausência dela.
Chegou até o tio, mão estendida, e uma pergunta na testa: "Pra que serve isso?"
O tio, que não era muito de prosa, partiu para a poesia. "Olha menino, isso aqui é o universo. Na verdade, um deles." O menino corou. Só não se sentia num labirinto porque não sabia o que era um labirinto.
"Você não entende o que eu falo, né. Isso não é problema. Veja aqui, o chão da sala. O que você faz no chão da sala?"
"Eu piso, com o pé." - falou rapidinho, já que sabia a resposta. "Isso mesmo. No xadrez é a mesma coisa. Você vai pisar como pé no tabuleiro, que é o nome desse chão. Só que você é grande pra isso."
O menino ficou cabulado, já que achava que era pequeno. E teve que concordar que era grande perto daquela caixinha.
"Mas nesse chão aqui você vai usar um tipo de pé diferente. Chama pedra, tá bom. Essa aqui é das famílias dos Bispo. A cor é diferente porque eles tão de mal. Agora é isso que precisa entender. O resto é só entender como faz para eles conversarem, ver quem ganha a discussão. O Bispo fala assim, ó..." - e mostrou na caixa-tabuleiro o Bispo falando.
O menino, de nome João, entendeu tudo. E hoje em dia, nas festas finais que nunca terminam, fala xadrez com seu tio. Mesmo quando não chove.
"Não sei o que é jogar não, tio. Nem sei o que é esse negócio de xadrez." - disse, enfim, o menino. Ficou silêncio.
"Alguma coisa você sabe jogar. Nem futebol?" - bufou o tio. "Futebol jogo, mas agora pode deixar a gente gripado..." A chuva não mostrava sinais de desistência.
"Vai na mala do tio, abre, tem uma caixa de madeira lá. Traz aqui." O menino mal ouviu as recomendações e rumou para o quarto, que era onde o tio maldito seja estava dormindo. Já na abertura, viu no meio das cuecas e camisas aquela caixa. Achou estranho o motivo da estampa, cheio de quadrados, só de duas cores. O menino não sabia que preto não é cor, mas ausência dela.
Chegou até o tio, mão estendida, e uma pergunta na testa: "Pra que serve isso?"
O tio, que não era muito de prosa, partiu para a poesia. "Olha menino, isso aqui é o universo. Na verdade, um deles." O menino corou. Só não se sentia num labirinto porque não sabia o que era um labirinto.
"Você não entende o que eu falo, né. Isso não é problema. Veja aqui, o chão da sala. O que você faz no chão da sala?"
"Eu piso, com o pé." - falou rapidinho, já que sabia a resposta. "Isso mesmo. No xadrez é a mesma coisa. Você vai pisar como pé no tabuleiro, que é o nome desse chão. Só que você é grande pra isso."
O menino ficou cabulado, já que achava que era pequeno. E teve que concordar que era grande perto daquela caixinha.
"Mas nesse chão aqui você vai usar um tipo de pé diferente. Chama pedra, tá bom. Essa aqui é das famílias dos Bispo. A cor é diferente porque eles tão de mal. Agora é isso que precisa entender. O resto é só entender como faz para eles conversarem, ver quem ganha a discussão. O Bispo fala assim, ó..." - e mostrou na caixa-tabuleiro o Bispo falando.
O menino, de nome João, entendeu tudo. E hoje em dia, nas festas finais que nunca terminam, fala xadrez com seu tio. Mesmo quando não chove.
2 comentários:
Taís Julião,
Quem sabe deve ensinar o que é vital. Mas o que é vital? ... Realmente o que é mais necessário deve ser vital! ... O que é mais necessário? ... Manter o coração batendo e o corpo aquecido talvez seja o mais vital, mas só isso ainda não é o essencial: e o ar dos pulmões? E os outros órgãos que mantém as inúmeras funções do metabolismo corporal, desde o nível celular até o funcionamento de todo o conjunto macro do corpo.
Mas o que é mais vital? O corpo ou o espírito? Embora o espírito seja algo duvidoso para muitos que não conseguem vê-lo, é algo que faz parte do que pensamos como essencial. Então vamos definir como "alma", algo mais antigo e mais aceito pela maioria como algo que faz parte de cada pessoa e a caracteriza como única no modo de ser: pensar, falar e fazer. Certamente não existe pessoa sem alma, ou existe? Bom, essa discussão vai longe, mas vamos direto ao que nos interessa agora.
Não ensinamos para as pessoas como devem funcionar os seus órgãos, nem como ela deve fazer para pensar. O que ensinamos é algo que temos e o outro ainda não tem. O que ensinamos nasce da nossa alma. Partindo do princípio que todos têm uma alma, receptáculo ideológico daquilo que nasce das almas, então ensinamos pelo contágio do conteúdo que temos na alma e passamos aos outros pela volição de revelar o que está em nós. Ensinamos verdadeiramente quando comunicamos o que somos na nossa alma. Se temos uma alma de enxadrista vamos transmitir o que vive em seu conteúdo e contagiar outra alma com o princípio do que é ser enxadrista. O que o velho fez com o menino foi contagiá-lo com um novo universo e ensiná-lo "andar" nesse universo! O universo do xadrez...
Abraços,
PC2009
Taís Julião,
Quem sabe deve ensinar o que é vital. Mas o que é vital? ... Realmente o que é mais necessário deve ser vital! ... O que é mais necessário? ... Manter o coração batendo e o corpo aquecido talvez seja o mais vital, mas só isso ainda não é o essencial: e o ar dos pulmões? E os outros órgãos que mantém as inúmeras funções do metabolismo corporal, desde o nível celular até o funcionamento de todo o conjunto macro do corpo.
Mas o que é mais vital? O corpo ou o espírito? Embora o espírito seja algo duvidoso para muitos que não conseguem vê-lo. Então vamos definir como "alma", algo mais antigo e mais aceito pela maioria como algo que faz parte de cada pessoa e a caracteriza como única no modo de ser: pensar, falar e fazer. Certamente não existe pessoa sem alma, ou existe? Bom, essa discussão vai longe, mas vamos direto ao que nos interessa agora.
Não ensinamos para as pessoas como devem funcionar os seus órgãos, nem como ela deve fazer para pensar. O que ensinamos é algo que temos e o outro ainda não tem. O que ensinamos nasce da nossa alma. Partindo do princípio que todos têm uma alma, receptáculo ideológico daquilo que nasce das almas, então ensinamos pelo contágio do conteúdo que temos na alma e passamos aos outros pela volição de revelar o que está em nós. Ensinamos verdadeiramente quando comunicamos o que somos na nossa alma. Se temos uma alma de enxadrista vamos transmitir o que vive em seu conteúdo e contagiar outra alma com o princípio do que é ser enxadrista. O que o velho fez com o menino foi contagiá-lo com um novo universo e ensiná-lo "andar" nesse universo! O universo do xadrez...
Abraços,
PC2009
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