"Assim como o amor e a música, o xadrez tem o poder de tornar os homens felizes." (Tarrash)

terça-feira, 13 de março de 2007

Memórias de uma não-campeã.

Somente pensar que poderia ter sido diferente não basta, muito menos resolve os problemas. Acaba virando piada como aquela seção da revista Superinteressante que divaga sobre os "se"s: se o Brasil falasse inglês... se o homem não tivesse chegado na lua... se dois mais dois não fossem quatro... Ou seja, não chegamos a lugar nenhum porque partimos do nada.

Uma alternativa seria a auto punição. Estar munida de chicotes e maus pensamentos e começar o ritual de purificação, aos berros de “Minha culpa! Minha culpa”. Que a culpa é minha todos também sabe, mas as condições de temperatura e pressão, a posição dos astros, a noite mal dormida, a sorte... Hummm... Onde estaria a sorte quando eu precisava dela? Talvez atendendo o outro lado, é possível. Da próxima vez serei mais ligeira.

Outro caminho possível: reflexão. Sim, refletir pode ser um caminho para entender o que se passou. Racionalizar. (Forjar argumentos) Sistematizar variantes de acerto e erro. Compreender em termos de boas e más escolhas. A modernidade permitiu isso ao homem, tirar os olhos de Deus da história e ver tudo horizontalmente. Olha-se os lados, nunca o céu. No máximo olha-se para dentro. Não há respostas aos enxadristas que as buscam no céu.


As memórias que tenho são lições. Não só enxadrísticas, pois agora sei que rocar grande jogando com as negras talvez não seja a melhor das escolhas, assim como me alertaram sobre um e5? que faço questão de interrogá-lo duas vezes, literalmente e por escrito.

As lições de humildade. Aquela que sustentou os samurais, grandes guerreiros. Paciência. Amor. Desprendimento. Competir é um ato de coragem, pode causar danos imprevisíveis. Disse uma amiga: “Sabe, quando perco uma partida é como se tivesse perdido uma pessoa.”

Campeão é apenas o primeiro, o um. Depois vem todo o universo. Será esse um texto coletivo?