"Assim como o amor e a música, o xadrez tem o poder de tornar os homens felizes." (Tarrash)

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Peça ou pedra: o que isso interessa?


Não segurei a ansiedade. Apesar de enxadrista, minha paciência não é das melhores, e como o ano está acabando, o pavio também está no fim. A questão que quero discutir hoje é simples e cotidiana. Pelo menos uma vez por semana escuto as palavras que me fazem refletir agora sobre a questão. Afinal de contas, é peça ou pedra?
Alguns dizem que o correto, segundo as leis da FIDE, é peça. Minha hipótese é que tem a ver com a singularidade do objeto que utilizamos para jogar, dotado de características muito particulares e construídas historicamente. O relevante, nesse caso, é falar da imagem, não da essência. O cavalo, obviamente, não é um cavalo. É quase metafísico, é figuração pura. Assim, justifica-se a preferência pela denominação peça, que me parece mais objetiva e consegue determinar a condição primeira dos objetos culturais que usamos para jogar xadrez, as peças.
Mas... se eu estiver me referirindo ao material da peça? Ou vocês acham que as peças do jogo de xadrez sempre foram de plástico, sendo alguns, por sinal, muito vagabundos? O rigor existente, então, em adotar a denominação peça toma formas distintas, ligadas a uma opção racionalista de pensar e, mais que isso, falar sobre o jogo! Não interessa mais se é madeira, se é pedra sabão (notem a palavra pedra!), de gesso, de tampinha de refrigerante, tanto faz! É tudo peça! Agora o que não dá para negar é que essa escolha pela peça mostra-se muito rigorosa e fundada num princípio, ou melhor, em uma vontade de tornar o jogo de xadrez próximo do exato. Já os materialistas, ou mais que isso, para aqueles que olham um jogo de xadrez montado (tabuleiro + Rei, Bispo, Dama ... ai, ai, ai, mais uma questão inexplicável! Rainha ou Dama?!), o que eles vêem são pedras sim, a materialidade da coisa, do que é feito, ou do que deveria ser, ou do que se conhece sobre como ele deveria ser construído... O primeiro jogo de xadrez que tive acesso era tão diferente do que uso hoje para jogar! Como posso negar que aquilo que coloco no tabuleiro são pedras, e não peças?!
Então resolvi a questão de duas formas: uma, é a linguagem. Ela muda a forma como pensamos a coisa, e não a coisa. Se não conhecemos algo, ele deixa de existir da forma como é? Se não sei resolver um problema de Matemática por não dominar a linguagem, o problema não sou eu e sim ela?
Segundo: é questão de observação. Tem gente que olha aquilo tudo que alguns chamam de exército (mais uma questão?!) e acham que são pedras, oras essa! Tem a ver com a linguagem também, do processo que envolve ela. E veja que estou me referindo somente a língua portuguesa!
Depois de me livrar desse demônimo todo, dessa reflexão profunda (?!) , ficou só uma coisinha para solucionar, ou melhor, para me pentelhar: peça ou pedra, o que isso interessa?!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

O ponto de vista

Nem todas as pessoas, quando decidem agir de alguma forma, pensam previamente todos os detalhes de sua ação. Muitas coisas vão tomando forma e sendo esclarecidas no decorrer dela. Não sei ao certo o porquê disso, mas observando pude perceber essa caracteríticas das pessoas. A consciência existe, isso é fato, mas ela não está presente o tempo todo.
E por falar em tempo, ele é fundamental para que a observação torne-se clara. Porém, não falo de um tempo quantitativo, mas sim qualitativo, com propriedades muito especiais. É o tempo vivido, que alguns chamam de experiência. Por exemplo, no jogo de xadrez são as partidas, e não necessariamente o tempo (horas, minutos e segundos) que levamos para jogá-la. A expriência - o tempo - nasce de uma relação diferenciada que estabelecemos com aquele momento enquanto agimos, no caso, enquanto jogamos.
Já ouvi muitos dizerem, principalmente as crianças, que são muito sensatas, que quando fazemos o que gostamos o tempo passa rápido e que, ao contrário, demora um tantão quando estamos envolvidos em algo chato. Tenho que concordar. Mas... e no xadrez? Será que essa referência "bom-ruim" tão acertadamente percebida pelas crianças diz alguma coisa sobre a experiência e a velocidade do tempo?
Não sei quantas partidas já joguei desde que aprendi as regras, há onze anos atrás. Onze anos é uma referência temporal, mas se é para medir em termos de "bom-ruim", minhas experiências são então péssimas, pois tenho certeza que perdi mais do que ganhei e, engraçado, mesmo assim consegui boas colocações em campeonatos. E mais, não parei de jogar. Dá para explicar?
Eu acho que sim. Minha explicação se fundamenta no meu ponto de vista, o tabuleiro. Não penso mais em termos de partidas ganhadas ou perdidas, nem de tempo, para entender minha experiência no jogo, e sim penso no espaço - o tabuleiro - que faz com que o tempo se transforme e tenha outros significados.
Enquanto jogamos xadrez, mergulhamos em outra realidade, uma imaginada que por mais que encontremos paralelos com o nosso cotidiano pra lá de real, elas de fato vêm de nossa capacidade de imaginação. Assim como as regras, que ganham status de verdade no jogo. Assim, o tempo do jogo não é o mesmo das horas.
Assim, o espaço acaba dando sentido ao tempo, que no caso do xadrez não possibilita medições numéricas. Explico: se fosse para quantificar, teríamos que qualificar, e seria algo mais próximo das estações do ano do que dos 60 segundos de um minuto. As estações seriam abertura, meio jogo e final. E assim se repetem, como primavera, verão, outono, inverno, primavera, verão, outono, inverno... Afinal, alguém conhece quem jogou a última partida? Enquanto alguém jogar, ou seja, enquanto existir o jogo, essas estações se repetirão. No caso do jogo de xadrez, já fazem alguns bons milênios.
Meu ponto de partida é o tabuleiro. Meu tempo e minha experiência vêm dele. Por isso me considero jogadora e não jornalista como sugerem alguns. Me interessa mais o que vejo no meu tabuleiro e, mais que isso, quando levanto a cabeça e olho em minha volta. Esse é meu ponto de vista.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

A preguiça e o surfista.

Vendo TV esses dias, tive que lidar com uma situação constrangedora: amigos gargalhando na minha cara ( ou será "da" minha cara?) por causa da nova propaganda da Globo.com.
Para quem não viu: um bicho preguiça- novo "garoto propaganda" da rede para divulgação da internet banda larga- está jogando xadrez com um renomado surfista brasileiro, campeão mundial e tudo. Ele conta que Serginho - sim, a preguiça tem nome!- lhe ensinou um jogo dinâmico, emocionante... E aquela cena patética do bicho, do surfista e do material de xadrez na mesa.
O tom é irônico, sem dúvidas. A idéia é associar lentidão duplamente- à preguiça e ao jogo de xadrez- e assim infiltrar nas nossas mentes: banda larga! Banda larga neles!!!
Do ponto de vista do marketing, parece eficaz pois realmente preguiça e xadrez são lentos. São imagens simples e óbvias para a proposta; duvido que alguém não tenha entendido a mensagem. Mas... o xadrez é só isso? (Não falarei de preguiças pois não entendo muito do assunto...)
Aparentemente, o xadrez é lento sim, parado, principalmente para aquele surfista que não entende nada de xadrez. Se entendesse não teria feito aquele papel ridículo na propaganda, a não ser por dinheiro. Mas isso é história...
Mas o enxadrista sabe que naquele marasmo aparente estão acontecendo turbilhões de coisas na cabeça. Nada parecido com o que sugere a propaganda. Para mim, foi o máximo de uso de esteriótipo de xadrez que já vi na TV.
Engraçado não deixa de ser. Também sou adepta do bom humor. Mas não deixei de sentir aquela pontinha de indignação com aquela cena toda. Pensei: "Serei uma preguiça?". Depois: "Até uma preguiça senta na frente de um tabuleiro!"- enfezei.
Para melhorar, ainda tem o comentário final enfâme do tal surfista: "Pena que não têm muitas gatinhas... Mas pelo menos têm duas rainhas!". O que fazer? Adotarmos biquinis e sungas como uniformes?
Idéia: carta de repúdio à propaganda com fotos de Alexandra Kosteniuk e Almira Skripchenko anexadas. Queria ver a cara do rapaz do surf ao ver essas meninas.
*Assim que estiver disponível no You Tube, coloco o link da propaganda.*

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

O número um.


No final das contas, eles continuaram a jogar. Deram o show, causaram polêmica, entraram para a história e agora estão disputando o tie-break. Vi algumas partidas, e por mais que não seja uma jogadora da "elite", pude perceber que no geral foram mornas. O melhor comentário técnico sobre o match está na página do GM Giovanni Vescovi (http://www.gvescovi.com.br/).
Por mais que este seja um duelo aguardado por muitos, não vejo grandes emoções nesse confronto. Vejo sim jogadores interessados em assumir um posto deixado apenas formalmente por Kasparov. Este sim soube ser o número um do mundo. Saberá Topalov ou Kramnik ser? A resposta está no ar, e quase ninguém opina.
Na verdade estamos vivendo um momento de transição do xadrez mundial, e por enquanto não temos convicção a respeito do novo líder do ranking. Kasparov ganhava, perdia pouco, gostava da publicidade e assumiu o posto de melhor do mundo inteiramente. No texto mais recente de Ivan Carlos Regina no site Clube de Xadrez há um a frase célebre de Garry que endossa o que digo: "No xadrez minha palavra é próxima a de Deus. " E é mesmo, pelo menos enquanto ninguém assume de verdade o vácuo que se instaurou no xadrez.
É difícil acreditar que outros Kasparovs e Fischers aparecerão, cada campeão tem seu estilo e sua personalidade únicas. Esperamos sim que aqueles que virão assumam com firmeza e dedicação. Kasparov é um bom exemplo. Encerrou sua carreira não só no auge, mas com uma verdadeira obra de xadrez, entitulada sabiamente de "Meus Grandes Predecessores". Nada mais definitivo para se consagrar na história do xadrez mundial.
A história do xadrez é, desde o século XVII aproximadamente, contado a partir de um ponto de vista personalista. São homens construindo a história, e particularmente gosto dessa perspectiva. Mas será possível manter essa tradição após Kasparov? Eu tenho minhas dúvidas.
Aguardemos ansiosos a definição desse jogo, que desta vez pode ser considerado predominantemente lúdico.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Discussões filosóficas!


Já disse mas se for preciso repito: eu estudo Relações Internacionais, não Jornalismo! Confesso que já pensei no assunto, mas cada vez que assisto TV ou leio jornal dou graças aos deuses por não ter passado naquela prova do vestibular... Mas desilusões a parte, queria contar a vocês um problema que tenho passado. Isso mesmo, um problema ao mesmo tempo engraçado e complicado de ser solucionado.
O xadrez, ao longo de sua história, tem sido comparado - talvez não seja essa a melhor palavra, mas é essa a idéia - a várias coisas, das mais diversas possíveis. Guerra, poder, negócios, música, matemática, só para citar alguns que me veio agora na cabeça. Mas ultimamente em minhas aulas ouço professores abusando - literalmente - do xadrez. É cada apropriação... Já ouvi cada absurdo que tenho vergonha de dizer aqui. Só para exemplificar um: usando aquele clichê de comparar estratégias de guerra com o xadrez, o professor brilhantemente concluiu que quem joga xadrez é gênio! Isso mesmo. Como ele o fez?! Até agora não entendi.
O pior de tudo é que aquele pessoal mais próximo que sabe que jogo - ainda bem que não sabem que só bato peças! - vêm me perguntar se o que ele disse faz sentido. O que eu falo?! Muitas coisas, depende bastante do meu humor. Em relação a esse caso específico, respondi com a pergunta: "Você me acha um gênio?".
Não pretendo ser indelicada com meus queridos professores doutores e pós-doutores, que sabem de muita coisa menos de xadrez. Fico feliz em ver que ainda resta o famigerado senso comum na honrosa comunidade científica e intelectual brasileira, afinal de contas, eles são humanos. Que alívio egoísta! Viva o achismo!
Eu também acho muitas coisas, principalmente sobre xadrez. Tenho pensando se joga-lo me confere alguma credibilidade para dizer o que digo. Não sei, ainda estou pensando, mas confesso que gosto de escutar o que cada um tem para dizer sobre o jogo, o significado que cada um de nós dá, ainda que influenciado pela cultura (ou sociedade, para quem preferir) que está emerso. Principalmente as crianças! Fico surpreendida com algumas respostas que recebo e estórias que me contam. Porque é assim mesmo, tem criança e tem adulto jogando xadrez. E todos tem uma opinião para dar, um achismo para achar.
Meu problema? Bom, é o seguinte: o que digo ao meu professor que comparou o xadrez de Napoleão Bonaparte e Otto von Bismarck no contexto da guerra Franco-Prussiana???
(Para falar a verdade, meu problema é em relação à guerra, e não ao xadrez.).

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

O problema é o banheiro!!



Hoje pela manhã acessei o site do Clube de Xadrez (www.clubedexadrez.com.br) e vi na página principal a notícia de que Topalov talvez abandone a disputa do título mundial contra Kramnik. Até aí tudo bem, afinal de contas, é inegável a personalidade um tanto quanto difícil desse búlgaro, também dotado de um ego exemplar. Opiniões a parte, fui checar o porquê desse rebuliço todo, e sinceramente não acreditei no que li em um primeiro momento. A patota toda é por causa do banheiro!!!
Resumindo a história: Topalov acusa Kramnik de ir muitas vezes ao banheiro e a sala de descanso, argumentando ainda com estatísticas (!) uma relação de idas por banheiro a cada lance, uma coisa absurda. Aí vem aquela teoria da conspiração: não há câmeras que registre as atividades do jogador no banheiro, o que coloca dúvidas - e muita imaginação! - sobre o que afinal de contas faz tanto o rapaz ! Exige-se muitas coisas. O "acusado", por sua vez, diz que toma muita água e por isso vai muito ao banheiro, alémd e gostar do ambiente para "passear". Topalov não aceita porque afinal de contas o rapaz está pensando seus lances no banheiro - que ousadia! *detalhe que Kramnik lidera com 3 a 1!* O outro, chutando o balde, diz que Topalov tem até um parapsicólogo (!!!) em sua equipe - que segundo ele pode usar de seus "poderes" para atrapalhá-lo- e ninguém diz nada, e ele que só vai muito ao banheiro leva a bronca??
Fim da história: ambos querem ir embora, bem criança dona da bola que diz "se não for assim, eu não quero!"
Minha pergunta: e o xadrez, onde fica nisso tudo?!
(Foto: Loira no Banheiro, mito brasileiro, jangadabrasil.com.br/revista/galeria/ca79006f.asp )

sábado, 9 de setembro de 2006

Xadrez nos filmes


Todo jogador de xadrez que se preze já assistiu pelo menos duas vezes "Lances Inocentes", podem confessar. Já devo ter visto umas dez vezes para mais, pois sempre tem um amigo ou parente que ainda não conhece então... Bem, este texto não tem nada a ver com este filme.
Conheço e assisti quatro filmes que colocam o xadrez em foco: "Lances Inocentes" - o nome original é "Searching for Bobby Fisher", vocês podem notar aqui o rigor da tradução (!) - cujo diretor é Steven Zaillian, lançado em 1993; "O Último Lance" - originalmente "Luzhin Defence" (alguém conhece essa defesa, meu Deus?!), de Marleen Gorris; "O Sétimo Selo", de 1957, do renomado e brilhante Bergman; e "Face a Face com o Inimigo"- "Knight Moves", para constar - de Carl Schenkel, 1992. Terei a oportunidade de falar dos outros filmes, mas o que mais me espantou e que vi mais recentemente foi este último, o Face a Face. O porquê do espanto? Falo agora.
Simplesmente é um filme de suspense que envolve xadrez e assassinatos. Tudo bem que em O Sétimo Selo o personagem principal joga xadrez com a morte; porém o significado ultrapassa o tabuleiro e a morte, pois ali há uma relação de significados que vão além da cena. Já o Face não; literalmente a morte é pensada como uma partida de xadrez. Os assassinatos que ocorrem aos montes no filme é - pasmem! - uma reprodução de uma partida de xadrez que considera os locais do assassinato como as casas do tabuleiro, ou seja, os crimes estão calculados de acordo com uma variante que é posta em prática quadriculando-se o mapa da cidade como um tabuleiro de xadrez. Loucura?! Não, imagina!
Nunca duvidei da potencialidade dos significados do jogo de xadrez, afinal de contas, o que faço aqui é uma tentativa de explorá-los. Mas nesse filme eu me surpreendi! E tudo no filme acontece em virtude de uma partida entre crianças que, como prevê a regra, acaba com um derrotado e um vencedor. O derrotado - uma criança profundamente abalada psicologicamente-, surta. Surtada, leva o xadrez de forma doentia e altamente refinada a justificar seus assassinatos.
A vítima? Mulheres, todas. Freud explica: a mãe do verdadeiro assassino morreu, por isso a escolha. O culpado-inocente? O garotinho que venceu o problemático, no filme um mestre do xadrez. O contexto? Durante um mundial de xadrez! Nossa, que combinação de elementos, hein!
Nas devidas proporções, um bom filme para ampliarmos nossa criatividade e ver que o xadrez pode explodir em significados, neste caso totalmente inesperado.
Não recomendo a crianças- além de tudo, há cenas explícitas de sexo. Um filme quase-bizarro, eu diria. Quem puder, assista e comente.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Sobreviver é possível?


Para quem não sabe, dentro de um ano serei uma Internacionalista ou Analista de Relações Internacionais. Sabem o que é isso? É quem faz gradução em Relações Internacionais, curso novo, cerca de 30 anos no Brasil e há 3 em Marília, cidade onde estudo.
Desesperada??? Imagine!!!
Por que estaria? Um curso recente, ninguém sabe - digo, ninguém que realmente importa, como empresários - sabem o que fazer com um profissional desta área, o curso mesmo é "o samba do crioulo doido", estudando um pouco de tudo, e tudo de nada. Essa é minha percepção das coisas. Porém, fui EU que escolhi fazer tudo isso. Mas puxando aqui namemória, lembro de uma grande dúvida existencial que tive na época que escolhi tudo isso...
É possível viver (ou sobreviver) de xadrez?
Essa dúvida me corroeu, eu amava jogar xadrez - e ainda amo! - me dedicava aos estudos, toda semana eu estava por aí participando de algum torneio - mesmo com a resistência de meus pais que achavam melhor eu "estudar para o vestibular". Neste contexto, realmente considerei a possibilidade de ser profissional, de trabalhar com xadrez, e viver feliz para sempre. Conhecia bons exemplos de pessoas que conseguiam construir sua vida assim, inclusive mulheres como as grandiosas pessoas de Joara Chaves e Regina Ribeiro.
Pensei, pensei... quase fiquei maluca... Pensei de novo... E decidi: vou mesmo é estudar.
Decidi fazer faculdade na esperança de - não custa sonhar! - ficar rica e daí então só jogar xadrez! Ia ser lindo, tudo planejada, certeza de sucesso. Quanta inocência! E agora me vejo aqui, em vias de me formar, preocupada com tantas coisas, e o xadrez, onde está?
Infelizmente eles ficam na minha estante, os livros, apostilas, até as peças, coitadinhas, tristes, solitárias, suplicando um afago que não posso dar pois tenho um seminário sobre Kant para apresentar semana que vem! Que vida triste é essa, meu Deus, de relegar a segundo plano o que se gosta!
Tenho hoje uns 10 aninhos de xadrez, nada perto de alguns monstros e não significativo quando penso na Amanda Marques e na Daphne Jardim que são "monstrinhas com 10 aninhos de idade". Conheci e ainda conheço tanta gente que consegue viver de xadrez, como um dia eu pensei em fazer e que hoje não consigo considerar... Penso na coragem e disciplina daqueles que escolheram este caminho, porque afinal de contas não dá para "jogar na raça". Sou defensora de que xadrez bom é xadrez estudado. Talento ajuda, mas o Xadrez Básico é essencial.
E eu nessa história toda - desolada com uma eminente possibilidade de ser uma desempregada diplomada como tantos - fico aqui, admirando, exaltando aqueles - óh, enxadristas! - que tiveram a coragem de decidir que viver de xadrez é possível sim, mesmo que no Brasil, mesmo que ganhando mal, mesmo que perdendo, mesmo que o xadrez seja tudo isso mesmo!
Nas palavras de Leminski:
"palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece."

domingo, 23 de julho de 2006

Lev Polugaevsky aprendeu.


No livro "Sicilian Love", de Polugaevsky com Piket e Guéneau, há uma entrevista interessantíssima com o nobre jogador, na qual ele fala sobre sua vida, seu contato com xadrez, suas experiências. Um trecho impressiona: perguntado sobre como se tornou um jogador profissional, ele acaba revelando como se tornou autor de livros - por sinal, ótimos livros! Em um encontro com Botvinnik em Belgrado, 1969, Polugaevsky é questionado se "está atualmente escrevendo um livro de xadrez". Respondendo negativamente, o primeiro não hesita em dizer:
"Why don't you accept that you are lazy? You should be ashmed of yourself. It is the responsibility of all grandmasters to write books." ( Por que você não aceita que você é um preguiçoso? Você deveria estar envergonhado de você mesmo. É responsabilidade de todo grande mestre escrever livros.) - Olha só, chamado de preguiçoso, na cara dura!
O importante é que a "intimada" rendeu frutos. Agora me diz: quem intimará nossos grandes mestres??? Eu é que não serei, afinal, ser grande mestre no Brasil é um desafio e tanto! Não só para alcançar o título não, mas principalmente para que ele realmente represente algo em âmbito internacional. E nós temos somente seis deles!
Alguns grandes mestres brasileiros escreveram livros de xadrez. É o caso de Darcy Lima, com os livros "Xadrez, Aprenda a Jogar", "O ABC das Aberturas", "Estratégia" e "Combinação". Os dois últimos contam com a co-autoria de Júlio Lapertosa. Nunca vi nenhum.
Gilberto Milos fez sua parte, escreveu "Xeque e Mate", em parceria com Davy D'Israel.
Giovani Vescovi traduziu o excelente e egocêntrico "Meus Grandes Predecessores".
Henrique Mecking escreveu "Como Jesus Salvou Minha Vida"- sem comentários.
Não gosto de pensar que esta localização em obras para os iniciantes do xadrez ou os que desejam aprender o jogo seja uma atitude, digamos, reflexiva da política "xadrez em massa" dos projetos escolares. Porque se for, digo que é uma pena. Com a qualidade destes jogadores, esperamos obras profundas, de qualidade, que circulem todo o mundo enxadrístico e não se concentrem apenas em escolas com projeto de xadrez. Não desmereço a atitude, é importante que haja bons livros de iniciação para que se aprenda correto. Mas é só isso?
Socializar o conhecimento é importante para que novos talentos surjam. Publicar é um ato de coragem, ainda mais no Brasil e sobre xadrez! Porém, até quando ficaremos à margem do grande circuito mundial de xadrez? As publicações são importantes para divulgar o xadrez brasileiro. Muitos têm feito sua parte, como Paulo Giusti e Gérson Batista e Joel Borges. Temos muitos mestres traduzindo. Mas por que não escrever?
Isso não é uma intimada, juro pelos Deuses! É só um desejo, uma curiosidade, e um pedido leve: grandes mestres, aprendam como Polugaevsky aprendeu! Escrevam!!!

sábado, 22 de julho de 2006


Esse negócio de blog tá mesmo na moda, conheço tanta gente que tem que só vendo! E no mais, dependendo do assunto que você digita na busca do Google aparece como link... um blog! Isso mesmo, o blog é bom por isso mesmo, dá para falar de tudo e de todos! Democrático que só ele. Já que é assim, também quero o meu! * risos*

A idéia aqui é simples: falar sobre xadrez. E não vem me falar que é difícil porque não é. Falar não é nada, quero ver é jogar xadrez! Mas como vou falar, meu jogo está poupado. Sorte minha.

Quero trazer aqui algumas coisas que leio e gosto sobre xadrez e que penso também. Já tive a fase de escrever crônicas, ainda persisto na de entrevistas, mas um blog combina mais comigo porque acaba parecendo um papo com todo mundo e com ninguém ao mesmo tempo. O que quero mesmo e não perder essa vontade de viver o xadrez de todas as maneiras possíveis, seja jogando, seja falando sobre ele, estudando, pensando na amplitude de possibilidades que ele nos coloca... Não sei se conseguirei alcançar meu objetivo, de falar as coisas que penso e demonstrar a paixão que tenho. Mas que fiquem claras minhas boas intenções!

Não aceito sugestões. O blog é meu, não é?! Então vou falar o que eu quiser mesmo. Aceito comentários, serão muito bem vindos.

Esta é minha breve apresentação, bem improvisada. Blog é bom por isso também, não precisa ficar relendo para ver se está bom e gramaticalmente correto. A informalidade dá uma liberdade que só ela! Vamos ver no que isso vai dar.