"Assim como o amor e a música, o xadrez tem o poder de tornar os homens felizes." (Tarrash)

sábado, 9 de setembro de 2006

Xadrez nos filmes


Todo jogador de xadrez que se preze já assistiu pelo menos duas vezes "Lances Inocentes", podem confessar. Já devo ter visto umas dez vezes para mais, pois sempre tem um amigo ou parente que ainda não conhece então... Bem, este texto não tem nada a ver com este filme.
Conheço e assisti quatro filmes que colocam o xadrez em foco: "Lances Inocentes" - o nome original é "Searching for Bobby Fisher", vocês podem notar aqui o rigor da tradução (!) - cujo diretor é Steven Zaillian, lançado em 1993; "O Último Lance" - originalmente "Luzhin Defence" (alguém conhece essa defesa, meu Deus?!), de Marleen Gorris; "O Sétimo Selo", de 1957, do renomado e brilhante Bergman; e "Face a Face com o Inimigo"- "Knight Moves", para constar - de Carl Schenkel, 1992. Terei a oportunidade de falar dos outros filmes, mas o que mais me espantou e que vi mais recentemente foi este último, o Face a Face. O porquê do espanto? Falo agora.
Simplesmente é um filme de suspense que envolve xadrez e assassinatos. Tudo bem que em O Sétimo Selo o personagem principal joga xadrez com a morte; porém o significado ultrapassa o tabuleiro e a morte, pois ali há uma relação de significados que vão além da cena. Já o Face não; literalmente a morte é pensada como uma partida de xadrez. Os assassinatos que ocorrem aos montes no filme é - pasmem! - uma reprodução de uma partida de xadrez que considera os locais do assassinato como as casas do tabuleiro, ou seja, os crimes estão calculados de acordo com uma variante que é posta em prática quadriculando-se o mapa da cidade como um tabuleiro de xadrez. Loucura?! Não, imagina!
Nunca duvidei da potencialidade dos significados do jogo de xadrez, afinal de contas, o que faço aqui é uma tentativa de explorá-los. Mas nesse filme eu me surpreendi! E tudo no filme acontece em virtude de uma partida entre crianças que, como prevê a regra, acaba com um derrotado e um vencedor. O derrotado - uma criança profundamente abalada psicologicamente-, surta. Surtada, leva o xadrez de forma doentia e altamente refinada a justificar seus assassinatos.
A vítima? Mulheres, todas. Freud explica: a mãe do verdadeiro assassino morreu, por isso a escolha. O culpado-inocente? O garotinho que venceu o problemático, no filme um mestre do xadrez. O contexto? Durante um mundial de xadrez! Nossa, que combinação de elementos, hein!
Nas devidas proporções, um bom filme para ampliarmos nossa criatividade e ver que o xadrez pode explodir em significados, neste caso totalmente inesperado.
Não recomendo a crianças- além de tudo, há cenas explícitas de sexo. Um filme quase-bizarro, eu diria. Quem puder, assista e comente.

4 comentários:

taís_julião disse...

É uma pena que ninguém ainda tenha visto o filme!!!

beltraoxadrez disse...

Olá Tais, conheço os filmes, gosto da maneira como tratam as caracteríticas intrínsicas do jogo.
Não consigo encontrar o "Lances Inocentes" - dublado, se vc tiver notícia...
Tenho um projeto de xarez escolar com 8.000 cças na prefeitura, e gostaria de oportunizar este filme a todos.
Obrigado e
http://xadrezbeltrao.blogspot.com
Parabéns

PC disse...

Cara Taís,

Ví todos esses filmes a muito tempo! "Lances inocentes" é a pura alma do xadrez que conhecemos. "O último lance" mostra um xadrez romântico com toque melancólico. "O último selo" é um filme surrealista que usa o xadrez para uma mensagem artística e filosófica sobre a vida e a morte. Porém, "Face a face" usa o xadrez para passar uma mensagem freudiana de patologia mental com requintes de serial killer. Só espero ver um filme de xadrez no mundo da ficção científica, daqueles em que o protagonista principal seja um ser humano dotado de um talento fantástico para jogar xadrez, ao ponto de ter a capacidade de confrontar com supermáquinas jogadoras de xadrez e vencê-las heroicamente defendendo o universo humano como o último baluarte onde ainda impera a imaginação e a criatividade, embora seja preciso lutar no mundo virtual dos algorítimos onde a inteligência artificial quer ocupar o lugar do ser humano no universo da racionalidade!

Saudações calorosas,

PC2009

Gilson Vilaça disse...

Taís e leitores deste BLOG, ouvi uma estória de um preso que, na cadeia, aprendeu jogar xadrez lendo livros, utilizando pedaços de pão como peças e as sombras da grade da cela como tabuleiro (não sei se vem de um livro ou de um filme esta estória). Muitos anos depois, o prisioneiro foi solto e teve a oportunidade de jogar com um mestre enxadrista em um torneio de exibição. Ele empatou a partida e, ao responder ao campeão sobre como aprendeu a jogar tão bem, disse ter sido aquela a primeira vez que tocava uma peça de xadrez. Até hoje não sei o nome do livro/filme que relata esta estória... Se alguém puder me ajudar, gostaria muito de saber o nome deste livro/filme. Muito obrigado pela atenção e um abraços a todos.